sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Armadilhas da história


A presença do povo nas ruas evoca lições que não podem ser ignoradas -Nelaço S. M. JHá quase três anos, no fim de 2010, uma onda de protestos sacudiu governos no Oriente Médio e no norte da África. Os acontecimentos surpreenderam o mundo, especialmente pelo que mostravam da capacidade de mobilização popular accionada por meio da Internet, e receberam a denominação de "primavera árabe", um rótulo que acenava com possibilidades de esperança na transformação de sociedades fechadas em promessas de democracia. Os recentes massacres no Egipto sepultam os acenos da primavera árabe e inauguram um cenário mais parecido com um novo Apocalipse.
Há quase três anos, no fim de 2010, uma onda de protestos sacudiu governos no Oriente Médio e no norte da África. Os acontecimentos surpreenderam o mundo, especialmente pelo que mostravam da capacidade de mobilização popular accionada por meio da Internet, e receberam a denominação de "primavera árabe", um rótulo que acenava com possibilidades de esperança na transformação de sociedades fechadas em promessas de democracia. Os recentes massacres no Egipto sepultam os acenos da primavera árabe e inauguram um cenário mais parecido com um novo Apocalipse.São as armadilhas e mistérios da história, situações que têm origens identificadas e ditam rumos que podem ser previstos. O aprendizado é sempre oportuno. Vista pela superfície, a imagem de multidões nas ruas nos países árabes encantaram o mundo pelo que continham de promessas de mudanças de melhorias para os povos de vários países. Vistas pela identidade, a realidade se impõe com força total e mostram estas sociedades com históricos de séculos de guerras, tensões, mortes. É o que faz a gente pensar hoje, quando assistimos líderes palestino e israelenses em conversações de paz, sempre liderados pelos Estados Unidos: "Já vi este filme antes." Se os próprios palestino são liderados por grupos que não se entendem (Hamas e Fatah), o que esperar como resultados?

O povo nas ruas, como agente transformador da história, é sempre uma imagem fascinante, mas o poder de fogo popular é uma incógnita. Maio de 1968 não impediu que em 1969 os franceses elegessem o presidente conservador George Ponpidou. No Brasil, o Junho de 2013, marcado pelas grandes manifestações populares em quase todo o país, tem uma grande promessa de transformação a cumprir e o momento oportuno serão as eleições de 2014. Só assim os jovens que foram o corpo e a alma dos protestos demonstrarão que saíram às ruas não só para conquistarem a redução de passagens de autocarro, mas também para mudarem a história.

A grande incógnita das manifestações foi a falta de líderes. Essa figura, o líder, está tão desacreditada que foi simplesmente riscada do mapa. Ao ponto de que o que parece ser uma qualidade acaba por gerar um problema de representatividade. Conversar com quem, com quais representantes dos jovens que protestaram? Os primeiros encontros com representantes de governos foram feitos com grupos, mas faltaram rostos que ficassem como representação de uma época. O rosto do Maio de 1968 foi Daniel Marc Cohn-Bendit. No Junho de 2013, não há um rosto, mas milhares de pessoas.

A presença do povo nas ruas evoca lições que não podem ser ignoradas. Outras multidões nas ruas deram em nada ou desvirtuaram as expectativas. Todos os brasileiros com mais de 40 anos podemos lembrar das manifestações populares de 1984, que pediam eleições directas para presidente da República. Na votação da emenda Dante de Oliveira, que resgatava as eleições para presidente, o Congresso Nacional simplesmente disse "não" e a voz do povo foi sepultada. A primeira página do Jornal da Tarde do dia seguinte, sem nada escrito, integralmente preta, resumia o luto de um país ainda em plena ditadura militar.

Na Rússia czarista do início do século 20, multidões foram às ruas e fizeram uma revolução, em 1917, que virou referência para outros países, inclusive o Brasil da Coluna Prestes, na década de 1920, e da Intentona Comunista na década de 1930. A movimentação popular na Rússia está descrita em detalhes no livro "Dez Dias que Abalaram o Mundo", do jornalista John Reed. O que aquela história tinha de romantismo foi logo descaracterizada por um líder chamado Josef Stalin, o criador do stalinismo, um dos "ismos" mais cruéis da história da humanidade. Nem a força de outros líderes fortes daquela revolução, como Vladimir Lênin e Leon Trotsky, foi suficiente para conter o stalinismo.

Outro exemplo brasileiro que marcou época ocorreu durante a crise do governo do ex-presidente Fernando Collor, em 1992. Collor pediu que o povo fosse às ruas vestido de verde e amarelo, as cores da sua campanha eleitoral, e a resposta foi dada com pessoas nas ruas vestidas de preto. Politicamente, as pessoas estavam de luto. Collor caiu em seguida. Era a época dos caras pintadas.

Mas também houve a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que apoiou o golpe militar de 1964 e inaugurou um período de 21 anos de ditadura no país. A Marcha consistiu de uma série de manifestações, organizadas por segmentos conservadores da sociedade, contra o então presidente João Goulart. Ele havia anunciado um programa de "reformas de base", que abriu uma crise política no seu governo, e o discurso contra o comunismo também mobilizava multidões.

Em outras ocasiões, o povo se omitiu das ruas. E outras vezes foi usado como massa de manobra. E também há ocasiões em que grupos se juntam com o único objectivo de quebrar tudo o que encontram pela frente. Os argentinos abrem outro aspecto: têm tradição de ir para as ruas protestar contra desmandos de seus governos. Essa capacidade, no entanto, não teve força suficiente para impedir uma das mais sangrentas ditaduras da América Latina, que devastou aquele país no período de 1976 a 1983.

Pode haver outras explicações para estes diferentes perfis e rumos tomados com protestos e manifestações populares. Nem sempre o ronco das ruas altera os pilares do poder: quem manda continua mandando e ponto. Foi o que aconteceu no Egipto. Nesses casos, as reações de quem comanda o poder podem até mesmo se agravar e ferir de morte uma situação que já está na pior condição.

Ainda bem que dizem que a esperança é sempre a última que morre. O difícil é acreditar.

Temos visto como a zona Euro tem debatido varias situações precárias, um dia também sera uma historia como esta que foi escrita de a séculos atrás,
Nem sempre um mal passado traz um bom futuro, é preciso lutar, ignorar as vontades da carne e ir em frente, nunca desanimar

Sem comentários: